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9.6.05

Saudades do Marquês

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A saudade é um sentimento que, aqui no Porto, começa a andar associado aos jardins: ou porque foram requalificados sem se atender minimamente ao seu valor patrimonial, ou porque desapareceram, ou porque servem de estaleiros para obras...


Jardim do Marquês em Outubro de 2000


Em Fevereiro 2005 e Maio 2005



Quem vive perto do Marquês ou por lá passa, mesmo que só de vez em quando, não pode deixar de sentir uma grande tristeza e saudade. Não só pela opção de se ter escolhido aquele local para fazer a estação do metro, mas também pelo estado em que o jardim se encontra, e por não poder usufruir do seu antigo sossego: está encerrado para obras, entaipado, inacessível, as árvores mutiladas.
A propósito destes plátanos do Marquês, recordamos aqui o que sobre elas e sobre o jardim escreveu Bernardino Guimarães no verão passado: «Vale a pena olhar: mesmo agora, decepadas umas, exiladas outras, incólumes raras, as velhas árvores do Marquês pagam o preço do progresso - mas com que classe, com que soberba insistência em continuar sendo árvores, apesar de tudo - bem merecem uma lembrança, enquanto se espera que a tormenta vá e não volte (temos sempre essa esperança) e as coisas voltem a ser como sempre as conhecemos. (...)
Sensato seria tudo repor (no que seja humanamente possível) como antes estava. Com o mesmo lago de antanho e sem inovações escusadas. Não se pode exigir menos. Trata-se de pagar uma espécie de dívida para com o jardim e a memória da cidade. Seria lamentável que, após tantos estragos, prevalecesse a peregrina tese que permitiu a horrível descaracterização de outros jardins antigos, como o da Cordoaria, apenas porque se pretende "marcar" o espaço com o timbre de autor, mesmo desrespeitando a autoria original, a história dos lugares e a própria geografia sentimental dos cidadãos - para não falar dos aspectos ambientais! Mesmo considerando a presença indisfarçável da estação de Metro, importa reconstituir minuciosamente tudo que for possível da imagem consolidada do Jardim do Marquês.»
Ler texto completo O Elogio do Marquês (JN, 27/07/04)

No boletim informativo da Metro do Porto, Infometro de Junho de 2003 (nº 11, págs. 12 e 13) fala-se da Estação do Marquês : «... ficará situada bem no centro da praça e por baixo do centenário jardim. Os acessos à estação serão efectuados por escadas e elevadores situados no próprio espaço verde e não do seu exterior, como chegou a ser ponderado. "Deste modo evita-se prejudicar as árvores, conseguindo-se simultaneamente a revitalização da vivência do jardim", aponta o arquitecto da Metro do Porto, Manuel Paulo Teixeira.»;
e das duas alternativas possíveis para a devolução do jardim à praça, como afirma o arquitecto porta-voz do Metro - «Uma vez concluída a obra da estação, seguir-se-á a obra de superfície, de modo a devolver o jardim à praça. "Há aqui duas alternativas: ou se repõe o jardim tal como era antes, ou, aproveitando esta intervenção inevitável, se redesenha o jardim com um ambiente mais contemporâneo", explica Manuel Paulo Teixeira. Há aqui a considerar outros aspectos, como o da segurança: "Um jardim com uma vegetação muito densa e fechada torna os espaços muito sombrios, o que nos dias de hoje pode ser contraproducente, pois não motiva uma circulação regular de peões, logo pode tornar-se menos seguro". De qualquer modo, esta é uma situação ainda em aberto e a decisão final compete à Câmara Municipal do Porto.»

Dado as últimas e tristíssimas decisões da Câmara Municipal, neste e no mandato anterior, (des)respeitantes aos jardins históricos e espaços emblemáticos da cidade, e dos arquitectos da Metro, temos muitos motivos para temermos o pior. Alguém sabe do projecto? Ou vamos ficar mais uma vez surpreendidos pelo genial rasgo?

Sim, temos saudades do Marquês...

Publicado também no Campo Aberto
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