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18.6.06

Factura de 2001



Autor de romances históricos que hoje poucos lêem, o portuense Arnaldo Gama (1828-1869) tem mesmo assim direito, na sua cidade natal, a dar nome ao jardim onde figura em estátua de corpo inteiro. Mão de bronze no queixo de bronze, não sabemos se observa os transeuntes com curiosidade benévola ou se, alheado, cogita romance que nunca há-de escrever. Talvez pense que o seu Jardim Arnaldo Gama, ali junto à muralha, tem desde 2001 muito pouco que encha o olho; em rigor, melhor seria chamar-lhe Relvado Arnaldo Gama. Um alinhamento de dez grandes ciprestes que corria paralelamente à muralha foi arrancado pela Porto 2001 para se enterrar o inútil e caríssimo elevador dos Guindais; canteiros e árvores deram lugar à monotonia estéril da relva. Cingidos à muralha como quem busca protecção, cinco cedros escaparam à motosserra. Mas, ainda que ficassem de pé, o trabalho insidioso das escavadoras minou-os na base, amputando-lhes raízes e condenando-os a prazo. Já morreram dois cedros e um terceiro está por um fio: eis a factura de 2001 que, na cidade de Arnaldo Gama, ainda estamos a pagar.

Publicado também no Dias com Árvores

Comments:
Que pena! Durante muitos anos este jardim acolheu a estátua do velho Porto que tão bem ali ficava, junto às velhas muralhas. Durante muitos anos calcorreou as suas velhas pedras o escultor Henrique Moreira que, lá no fundo, bem escondido na folhagem, tinha o seu atelier-refúgio. Não houve respeito pelo legado do escultor que, como árvore de boa cepa, morreu de pé. Como poderia haver respeito por estas pobres árvores?

Obrigada por este e os outros belíssimos blogues.

M.R.L. (Toronto, Canadá)
 
É de facto uma factura muito alta a pagar ... do 2001, de todas as "requalificações" dos jardins, avenidas e outros espaços!
Será igualmente uma factura a pagar, termos de ver, por exemplo, as árvores do Marquês recentemente ancoradas (como se nos fizessem acreditar que, depois dos estragos que foram feitos, aquelas "cordas de saltar" seguram o que quer que seja!"? Será "aquilo" uma árvore? Não estaremos a querer fazer andar um amputado? Serão igualmente ÁRVORES... os "penachos" que do Marquês emigraram para a praça Velasquez? Já repararam que todos os espaços que ultimamente têm sido alvo de obras, junto ao arvoredo, começam já a dar sinais de cedência?
Teremos nós memória, força e Voz suficiente para, daqui a uns anos (os mesmos que os cedros do Arnaldo Gama demoraram a morrer)conseguirmos GRITAR BEM ALTO que as árvores foram mortas e não apenas morreram de morte súbita?
Quem responsabiliza os politicos que "amparam" tais intervenções?
Que herança estamos nós a receber de tantas asneiras?
Valeria a pena, por exemplo, pensar um pouco na dignidade final de uma árvore tão massacrada (mesmo que silenciosamente)e que, só porque se quer mostrar que se protegem as árvores... se insiste na sua manutenção completamente desfigurada...
Serão elas ainda árvores? São essas as árvores que queremos para a nossa Cidade?
Que segurança nos oferecem essas árvores?
Penso que a isto se poderá chamar MORTE LENTA... QUASE TORTURA!... Não sei o que cada um de Vós pensa, mas não é isso que eu gostaria de ter na minha Cidade!
 
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